Mar Revolto
— Cara, você quase morreu tentando ajudar — disse Thiago, sério. — Eu sei… mas ela precisava, não dava pra ignorar. — Sim. Mas ajudar alguém exige preparo. Do contrário, você só afunda junto.
TEXTOS - BEATRIZ GOMES
Beatriz Gomes
7/25/20252 min read
O sol começava a se esconder no horizonte quando Lucas viu a menina se debatendo nas ondas agitadas da praia. Ela gritava, engolindo água, braços levantados, olhos arregalados. Sem pensar duas vezes, ele correu, jogou os chinelos na areia e mergulhou no mar.
Lucas não sabia nadar bem. Seu instinto era puro impulso: ele só queria salvá-la. Mas à medida que se aproximava, ela, em pânico, agarrou seu pescoço com força, empurrando-o para baixo. Ele tentou soltar, tossiu, engoliu água. Ambos estavam se afogando. Foi por pouco que um salva-vidas profissional os alcançou, afastando a garota de Lucas e os puxando com boias até a margem.
Horas depois, já mais calmo, Lucas sentou-se no deque de madeira da praia, coberto por uma toalha e ainda tremendo, não só de frio. Ao lado dele, seu amigo Thiago apareceu.
— Cara, você quase morreu tentando ajudar — disse Thiago, sério.
— Eu sei… mas ela precisava, não dava pra ignorar.
— Sim. Mas ajudar alguém exige preparo. Do contrário, você só afunda junto.
Lucas assentiu, pensativo. Ficou em silêncio por um tempo e então olhou para o mar.
— Sabe o que é mais louco? — disse. — Isso me lembra a Júlia.
Thiago franziu a testa.
— Sua irmã?
Lucas assentiu.
— Ela tá se afundando em dívidas, ansiedade, decisões ruins. E cada vez que tento ajudar, ela me empurra pra baixo. Ela diz que tá bem, que não precisa de mim. Mas eu sei que tá afundando.
Thiago ficou quieto por um momento, depois respondeu:
— Algumas pessoas não querem ser salvas. Ou não estão prontas. Tentar forçar ajuda pode te puxar junto. Às vezes, a melhor forma de ajudar… é esperar que elas queiram nadar. E estar por perto com uma boia, não com o próprio corpo.
Lucas respirou fundo, observando as ondas quebrarem na areia.
Naquela noite, ele aprendeu duas lições de uma só vez: nunca entre em águas profundas sem saber nadar — e nunca mergulhe na dor de alguém que não quer ser salvo. Você pode amar, pode estar presente, mas precisa saber como ajudar. Ou acabará se afogando junto.
Cada sessão é conduzida com base na escuta ativa, na inteligência emocional e em uma espiritualidade acolhedora.
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